Com o Grande Prêmio da Bélgica, a Fórmula 1 volta do longo intervalo de quatro semanas que marcam as férias de verão que interrompem o campeonato mundial em sua metade. Faz quatro semanas que aconteceu a última etapa do Mundial, o GP da Hungria, marcado pela vitória de Mark Webber e pela ultrapassagem de Rubens Barrichello. Até parece que foi há mais tempo...
No intervalo entre as duas provas, as equipes são obrigadas a fechar as suas portas e dar férias aos seus empregados por pelo menos 20 dias -mas, como não há fiscalização sobre as “lições de casa” dos engenheiros, então, há algum desenvolvimento dos carros. As equipes juram de pés juntos que não “furaram as férias” neste meio tempo, mas sempre acabam mostrando alguma evolução.
Dois exemplos de que houve este tipo de movimentação na folga de meio de ano foram Renault e Mercedes, que apresentaram novidades importantes para a corrida de Spa-Francorchamps. Se a equipe alemã mostrou o seu novo difusor, adaptado para o uso dos gases expelidos pelo escapamento para otimizar o uso da peça, os franceses mostraram no final de semana o duto de ar criado pela Mclaren no começo do ano que reduz a pressão aerodinâmica dos carros enquanto eles rasgam as velozes retas da pista belga.
Mas não devem ser estas as equipes protagonistas, tanto da etapa belga como das etapas restantes do campeonato. Longe disso. Se a Renault tem em Robert Kubica um piloto que vem fazendo o melhor trabalho no campeonato fora das equipes que brigam pelo título - Red Bull, Mclaren e Ferrari -, o R30 ainda não é um carro capaz de levá-lo às vitórias - mesmo com a alteração aerodinâmica instalada no protótipo. E a Mercedes sofre para fazer um carro cujas características façam com que Michael Schumacher se sinta confortável no comando dele - enquanto isso, Nico Rosberg, apesar de não passar a vergonha passada pelo seu companheiro de equipe, também não é capaz de brigar por vitórias.
A briga pelo título se resume a Red Bull, Ferrari e Mclaren. As três tem pontos fortes e fracos que podem colocá-las em vantagem na briga - ou simplesmente tirá-las da disputa. A Red Bull é a principal candidata ao título. Afinal, claramente tem o carro mais rápido da categoria. Para comprovar a tese, tem a seu favor o fato de que marcou 11 poles em 12 etapas disputadas até o momento. Seu motor, se não é o melhor da categoria, já não compromete como já comprometeu antes. Seus problemas residem no material humano disponível.
A direção da equipe não está acostumada a lutar pelo título e comete erros bobos, desperdiçando oportunidades, enquanto a dupla de pilotos tem virtudes e defeitos complementares: Mark Webber não é tão bom tecnicamente, mas compensa na força mental, enquanto Sebastian Vettel é muito bom tecnicamente, mas não tem conseguido se estabilizar mentalmente. O problema desta combinação é que a equipe pode se autodestruir se não resolver as suas questões internas já nesta temporada - e, se sobreviver a isso, pode rachar de forma a comprometer o ano seguinte.
A Ferrari, por sua vez, tem esta questão política interna resolvida. Deixou claro para Deus e o mundo na Alemanha que vai de Fernando Alonso. Não é para menos, afinal o espanhol tem boa vantagem sobre Felipe Massa, que por sua vez não faz seu campeonato mais brilhante, no campeonato. Há de se considerar que a equipe deixou a briga interna aberta até a metade do campeonato - até a Grã Bretanha -, mas devido a situação dos dois pilotos naquele momento, os italianos fecharam a questão. O carro evoluiu bastante com o pacote de meio de ano lançado em Valência e parece em condições de brigar por pontos que venham a ser desperdiçados pela Red Bull - e assim levar Alonso ao seu terceiro título mundial.
O problema é que há uma espada sobre a cabeça da Ferrari: a manobra do GP da Alemanha ainda está em aberto e a equipe pode sofrer sanções adicionais, além da multa de 100 mil euros na reunião do Conselho Mundial, a ser realizada no dia 8 de setembro. A perda dos pontos relativos à dobradinha em Hockenheim deixaria Alonso em situação bem complicada. Na situação atual - antes do GP da Bélgica - a desclassificação da Ferrari significaria que o espanhol teria 47 pontos de desvantagem para os líderes Mark Webber e Sebastian Vettel - o que significa uma desvantagem de duas vitórias para os pilotos da equipe austríaca. É um dos motivos que faz imaginar que a reunião do Conselho acabará sem este tipo de punição para os pilotos: tiraria uma das grandes da luta pelo título. Sem contar que, no caso da espionagem da Mclaren em 2007, a equipe perdeu os pontos, mas os pilotos não. Algo parecido em Paris não seria nenhuma surpresa.
Pelos números, a Mclaren vem bem. Está bem posicionada na briga pelo título com seus dois pilotos - ambos com situação melhor que Fernando Alonso, por exemplo. Mas vive um problema. Perderam bastante terreno nas últimas duas provas, deixaram de ser a principal perseguidora da Red Bull e não subiram ao pódio. A explicação pode estar na dificuldade vivida pelos ingleses para criar um sistema de escape adaptado ao uso em seu difusor, que os fizeram perder terreno para a Ferrari. Mas parece que o sistema está melhor adaptado ao carro e, em Spa, os ingleses conseguiram um desmepenho melhor. Tanto que, num claro sinal de desespero, tentou jogar os holofotes contra as asas dianteiras e assoalhos de Red Bull e Ferrari, que envergariam e aumentariam a sua eficácia. Para acabar com as reclamações
Pode ser que, neste final da temporada europeia, o melhor motor da categoria - Mercedes - faça com que os prateados voltem a figurar no topo da tabela, mas, numa análise geral das próximas corridas, eles tentam mais a sofrer que a andar bem nas últimas provas. Das cinco provas que restarão depois de Monza - e o fim da temporada europeia -, em duas, a Mclaren encontrará situação em que não se dá bem - pistas de baixa, Cingapura e Abu Dhabi - e duas que até se dá bem, mas as rivais tendem a andar mais - Suzuka e Coreia. Isso sem contar que, em Interlagos, os ingleses poderiam ter o favoritismo em função do motor, mas ainda assim nas temporadas passadas justamente os seus rivais se deram melhor - Red Bull no ano passado e Ferrari nos anos anteriores.
Por outro lado, a Mclaren conta com um Lewis Hamilton em grande fase, que tem arrancado pontos a fórceps nas últimas corridas e Jenson Button, apesar da péssima fase nas classificações, vem andando bem nas corridas - tanto que se mantém na disputa mesmo tendo liderado apenas 11 voltas desde a sua última vitória, no distante GP da China, ainda em abril.
Para deixar a situação ainda mais indefinida, a realização do GP da Coreia ainda é incerta. As obras na pista localizada em Yeongam estão atrasadas -faltando pouco menos de dois meses para a prova, a pista não recebeu o asfalto. Os construtores argumentam que o atraso acontece devido às chuvas que caem na região, mas que as obras terminarão a tempo de a Coreia sediar a etapa do Mundial no dia 24 de setembro. Com todas estas situações ainda indefinidas, o terço final da temporada tem tudo para ser emocionante. Vale a pena acompanhar.