Acabou a espera. Depois de meses de enrolação e novelas, a temporada 2010 da Fórmula 1 começou em março com o Grande Prêmio do Bahrein. É o início de uma temporada que promete muitas emoções, depois de uma verdadeira revolução que quase ocorreu do lado de fora das pistas - em decorrência do desentendimento entre FIA e equipes que gerou uma guerra política poucas vezes vista na categoria.
Dentro da pista, as novidades não são menores, com o aumento do grid que quase deu em nada, a mudança da dupla de pilotos em sete das dez equipes pré-existentes, as voltas surpreendentes de Michael Schumacher e da Mercedes como equipe oficial, depois de anos de parceria com a Mclaren. São muitas mudanças, numa temporada que, graças a elas, começa sob uma expectativa poucas vezes vista na Fórmula 1.
Mais carros, como antigamente
Como resultado da guerra política entre Max Mosley (fia) e das equipes (FOTA), encabeçada por Luca di Montezemolo, Ron Dennis e Flavio Briatore-, houve concorrência para que novas equipes entrassem no circo da Fórmula 1. A ideia é que houvesse 26 carros no grid, como acontecia até meados da década de 1990.
A Campos-Meta, US F1 e Manor foram agraciadas com vagas. E, depois, com a não inscrição - no primeiro momento - da BMW Sauber para 2010, a Litespeed conseguiu um lugar no seleto grupo de equipes que disputariam a temporada 2010.
A Sauber, por fim, não saiu. Acabou sofrendo um processo de compra semelhante ao que a viveu a Brawn em 2009, e foi para as mãos de Petter Sauber. Mas como a Toyota declarou que estava abandonando a categoria logo depois do fim da temporada passada, a equipe suíça acabou sendo reagraciada com uma vaga na categoria.
Campos? US F1? Manor? Litespeed? Pois é. Em julho de 2009, depois da concorrência da FIA, seus nomes eram estes. Mas de uma forma ou outra, as dificuldades de se montar uma equipe a partir do zero ficaram evidentes e muita coisa - inclusive suas denominações - mudou desde então.
Logo a Manor anunciou que o grupo Virgin fazia parte de seu projeto e mudou o seu nome para Virgin Racing. Para o desespero dos puristas, a Litespeed virou Lotus depois de receber uma boa grana do governo malaio. E a Campos, chefiada pelo espanhol Adrian Campos - ex-piloto da F-1 e dono de equipe da GP2 - sucumbiu às dificuldades financeiras que vive seu país, só sobrevivendo depois de uma longa novela e sendo rebatizada de HRT (Hispania Racing Team), chefiado por Jose Ramon Carabante, já sócio da equipe de Campos. Por sorte, a construção do carro havia sido terceirizada para a Dallara, então, não houve tantos problemas com relação ao término da construção do carro.
Já a US F1 não teve a mesma sorte e, por não ter conseguido terminar o seu carro em tempo - por difuculdades financeiras -, acabou ficando de fora da categoria. Quem cobiçava a vaga dos norteamericanos era a Stefan GP, que comprou o espólio da Toyota - projeto do carro 2010 -, e ameaçou enviar materiais para o Bahrein e testar nas datas permitidas pelo regulamento.
Mas, como a FIA apenas divulgou que a vaga da US F1 tinha sido declarada aberta apenas no fim de fevereiro, a entrada da equipe sérvia foi inviabilizada. O que foi anunciado pela entidade máxima do automobilismo mundial é que outra concorrência será aberta para 2011.
Caras novas (ou velhas) em casas novas (ou velhas)
A entrada das novas equipes fez com que o mercado de pilotos sofresse uma verdadeira revolução. Apenas três equipes permaneceram com a mesma dupla do GP de Abu Dhabi - sendo que duas delas trocaram um de seus pilotos na fase final da temporada. Além da Force India - que mantém Adrian Sutil e Vitantonio Liuzzi -, Red Bull - Sebastian Vettel e Mark Webber - e Toro Rosso - Sebastien Buemi e Jaime Alguersuari - mantiveram as suas duplas da última etapa da categoria.
Se os rumores vinham se estendendo pelos últimos anos, a dança das cadeiras começou tarde. Apenas no final de setembro, as peças começaram a se mexer no tabuleiro do mercado de pilotos, com a confirmação da ida de Fernando Alonso para Maranello. A partir daí, as peças passaram a cair de forma alucinada, fazendo com que a categoria tivesse uma cara bem diferente.
A Brawn GP, que muda a sua razão social para Mercedes GP depois de ser adquirida pela fábrica alemã, depois de um desentendimento com a sua parceira de longa data, a Mclaren, deixaram a sociedade com os ingleses e partiram para uma aventura solo com a equipe que melhor se houve na última temporada. Como uma espécie de revide, os ingleses levaram Jenson Button, oferecendo um contrato vultuoso ao campeão mundial. Para tentar diminuir o impacto da perda do número 1 e do campeão para a nova rival, a turma de Stuttgart resolveu investir na volta da lenda Schumacher - e conseguiu.
A Mercedes terá uma dupla nova. Os alemães apostam no futuro ao trazer Nico Rosberg da Williams. Rosberg, porém, acabou sendo traído pelos fatos, já que imaginava ser a aposta imediata da gigante da estrela de três pontas ao ser trazido da equipe inglesa. Não será, porque para substituir o campeão mundial, a turma de Stuttgart trouxe ninguém menos que o heptacampeão mundial.
Barrichello será o substituto de Nico Rosberg na Williams e terá a missão de tutorar o seu companheiro novato, Nico Hulkenberg, campeão da GP2. Mais uma vez, a Williams aposta alto em um campeão da GP2, trazendo-o para as suas fileiras - como foi com Rosberg em 2006.
Quem terá um ano diferente será a Renault, com uma nova administração depois do escândalo de Cingapura 2008. Após ver Flavio Briatore banido do esporte, vendeu parte da participação acionária para o grupo luxemburguês Genii Capital. E quem se vê às voltas com esta confusão é Robert Kubica, que acertou seu retorno achando que a francesa continuaria sendo oficial, mas será apenas uma equipe com o nome da fábrica. Para completar o périplo do polonês, seu companheiro será estreante e pagante, o russo Vitaly Petrov.
Outra equipe com nova administração é a Sauber, nas mãos de Petter Sauber. O suíço escolheu uma dupla pouco experiente, mas promissora. Kamui Kobayashi foi o nome do final da última temporada, depois de andar muito bem no Brasil e em Abu Dhabi, e Pedro de la Rosa, experiente piloto de testes da Mclaren, mas que apenas largou nove vezes nos últimos oito anos.
Entre as novatas, três caminhos distintos. A Lotus pega dois pilotos experientes que pouco produziram nos últimos anos - Jarno Trulli e Heikki Kovalainen. Já a Virgin mescla a juventude e experiência com Timo Glock e Lucas di Grassi. E a Hispania aposta na juventude - e na possibilidade de rechear o orçamento da equipe - de Bruno Senna e Karum Chandhok.
Novas (e velhas) mdanças de regulamento
O regulamento da categoria mudou de novo. São modificações pontuais, mas suficientes para que as equipes tenham que re-estudar os seus projetos. Das que são visíveis e afetam os carros, há duas: a proibição do reabastecimento e a mudança na largura dos pneus dianteiros.
A mais importante delas diz respeito ao reabastecimento. Assim, os pilotos não poderão mais receber combustível durante as provas - o que, segundo a FIA, vai permitir que as corridas tenham mais ultrapassagens. A justificativa para a volta do reabastecimento em 1994 era justamente a mesma, mas ninguém lembra disso.
A mudança faz com que os carros da categoria sejam mais compridos - a fim de fazer caber no espaço exíguo de um Fórmula 1 um tanque que tenha no mínimo o dobro da capacidade utilizada até 2009. Além disso, um tanque com mais de 100 kg a mais em comparação ao que se utilizava na temporada passada exigirá dos pilotos grande habilidade. Tanto na mudança de acerto que os carros passam do começo da corrida até o seu final - dada a diferença brutal de combustível no tanque - como na capacidade de manter pneus inteiros mesmo pilotando um carro muito mais pesado. Enfim, será interessante ver como pilotos arrojados, como Lewis Hamilton, se sairão nesta nova fase da categoria.
A dimensão dos pneus dianteiros muda nesta temporada. Dos 270 mm anteriores, passam para 245 mm - com a ideia de reajustar o nível de aderência que os carros tinham na época dos pneus raiados. Os cobertores elétricos foram mantidos, após uma polêmica decisão da FIA abolindo a sua existência no ano passado. Mas o número de jogos disponíveis por pilotos por final de semana foi cortado. Caem de 14 para 11.
Ainda próximo, as calotas que tanto enfeiavam as rodas estão proibidas. Por fim, qualquer alteração em algumas áreas - como rodas, estruturas de impacto e células de sobrevivência - está sujeita a aprovação dos comissários
Algumas mudanças não são tão visíveis. É o caso do aumento do peso mínimo dos carros para 620kg - em comparação aos 605 kg permitidos anteriormente. Este aumento permite aos carros ganharem as proporções já citadas sem que haja problemas com o peso. Os carros não terão o KERS nesta temporada - não por exigência do regulamento, mas por iniciativa das equipes, que acordaram o fim do sistema.
No funcionamento das corridas, alguns detalhes mudam. Como o sistema de pontuação, já demonstrado nos mundiais de rali - WRC - e carros turismo -WTCC. Assim, o vencedor recebe 25 pontos, o segundo 20, até o décimo colocado, que recebe um ponto, desta forma: 25-18-15-12-10-8-6-4-2-1. Outra mudança é que a corte de comissários que julgam as manobras dos pilotos será única, inclusive tendo a presença de ex-pilotos. É uma boa notícia para uma categoria que viu algumas decisões polêmicas nos últimos anos. Outro item é o sistema de classificação, que elimina sete pilotos nas duas primeiras fases antes de sobrarem os dez que disputam a fase final.
Novas (e velhas) paradas
Dois mil e dez marca a chegada da Fórmula 1 à Coreia do Sul. A pista de Yeongam, no sul da província, a receberá pela primeira vez. A etapa coreana está marcada para 24 de outubro. Porém, seu traçado não deve surpreender tanto, já que foi projetado por Herman Tilke, projetista de outros oito circuitos que constam no calendário da categoria.
O ano também marcará a volta de um circuito simpático aos pilotos - e estimado pelas equipes, por motivos comerciais. É o circuito Gilles Villeneuve, na Ilha de Notre Dame, em Montreal. O Canadá voltará a sediar a Fórmula 1 depois de um ano de ausência, na primeira metade de junho.
Alguns circuitos sofreram reformas importantes. É o caso do Bahrein, que teve uma nova sessão de curvas adicionada ao traçado original - depois da curva 4. Outra pista que também sofreu uma boa reforma foi Silverstone, que esteve para perder a etapa para Donington Park, mas, graças à falência da controladora da pista do centro da Inglaterra, manteve a corrida. Para justificar a manutenção da etapa, Silverstone está recebendo um banho de loja que incluirá uma nova sessão chamada Arena - que surge na curva Abbey e termina na Brookland -, além de um paddock novo a ser construído na reta Hangar para 2011.
Este é um breve resumo das novidades para a temporada 2010. Que seja uma ótima temporada, com ótimas corridas e grandes emoções.
Marcio escreve às quartas