Um tem um câmbio manual automatizado, ou seja, com a opção de funcionar como um automático comum ou com trocas seqüenciais. O outro tem uma caixa automática, mas com opção de trocas manuais. Estes são, respectivamente, Fiat Stilo Sporting Dualogic e Peugeot 307 2.0 Feline. As transmissões têm a mesma proposta: fazer duas coisas ao mesmo tempo, mas cada um ao seu modo. Em comum, nenhuma das duas consegue realizar a tarefa com perfeição.
O câmbio Dualogic chegou na linha 2008 do Stilo junto com algumas mudanças no visual, como novas lanternas e pára-choques. O funcionamento dele é praticamente como o de uma caixa manual comum de cinco marchas, mas com trocas comandadas por uma central eletrônica. Elas podem ser feitas automaticamente, pela alavanca ou por paletas atrás do volante (opcional de R$ 687, mas vem associado somente a um pacote de acessórios que sai por R$ 3.034).
Nas trocas manuais, é preciso pegar o jeito de aliviar o pé no acelerador para evitar dar trancos. A comunicação entre a alavanca e a caixa é quase imediata e, com a adaptação do motorista, as trocas passam a ser suaves e até divertidas. Vale a pena investir na compra das paletas.
Se o motorista quiser conforto e colocar em modo automático, vai ter de se acostumar com os trancos e as trocas contra a própria vontade. Ele sobe quando quer esticar um pouco e desce quando precisa de freio-motor. O fato de não poder adiar as mudanças de velocidades pode ser atenuado com a tecla S, que deixa o câmbio em modo esportivo. Além de funcionar no automático, ele também atua no manual, acelerando a velocidade das trocas.
O câmbio do 307 é o já conhecido automático Tiptronic. Em D, ele tem trocas lentas, mas confortáveis. O motorista quase nem sente. Ele também percebe quando o acelerador é exigido e retarda as mudanças entre as quatro marchas. No trânsito pesado, é garantia de sossego para o condutor. Se o dono do Peugeot busca esportividade, porém, ele vai se decepcionar. Em modo manual, as trocas são mais lentas ainda. A caixa demora a entender o movimento da alavanca e tira a sensação de controle do carro. Nem com a tecla S pressionada, ele se anima.
Falta o flex para o 307
Comparar os motores pelo desempenho seria injusto. O Stilo é equipado com um 1.8 bicombustível que rende até 114 cv no álcool. É pouco perto do 2.0 16V de 143 cv do 307, que é movido somente a gasolina. Mas, se formos analisar separadamente, é fácil perceber que o propulsor do Fiat é insuficiente para a esportividade que o câmbio Dualogic e o visual sugerem. Ele tem funcionamento áspero e ruidoso e não rende quando exigido em altas rotações. O consumo, com álcool, ficou na média de 7,9 km/l em uso misto de estrada e cidade.
O propulsor do 307 peca por não ser flex. Na gasolina e no mesmo trajeto do Stilo, ficou em 7,6 km/l. Mesmo bebendo mais, ele agrada pela suavidade e pelas respostas imediatas. Perde somente em arrancadas, quando se mostra preguiçoso.
Visual esportivo para o Stilo
Olhar para os dois carros, é fácil imaginar o perfil de cada um. O do 307 usa terno e o do Stilo, bermudas. O Peugeot tem desenho sério e elegante. Por ser praticamente o mesmo desde 2001, com exceção do face-lift que recebeu na frente em 2003, ele já não chama mais tanto a atenção nas ruas, mas agrada aos fãs da marca.
O conservadorismo do visual se reflete no interior. Os instrumentos têm aros cromados e grafismos tradicionais com fundo preto. O console tem os comandos à mão e o ar-condicionado digital de duas zonas é de série. Na alavanca de câmbio, há um certo exagero no uso de cromados, que chega a incomodar os ocupantes sob sol forte.
O Stilo Sporting se inspira em outra escola. A grade tem filetes vermelhos e as rodas têm 17 polegadas. O aerofólio na tampa traseira também vem de fábrica. Um diferencial é o SkyWindow, que cobre quase todo o teto do carro, de série nesta versão. No 307, um teto solar tradicional só está disponível na versão topo de linha Griffe.
Por dentro, instrumentos com fundo branco, plásticos de tonalidade clara e bancos de couro. O som com MP3 tem entrada para iPod e porta USB dentro do porta-luvas. Os comandos podem ser no volante. Ao contrário do Peugeot, o acabamento não é tão impecável. Os materiais usados são bons, mas há falhas em alguns encaixes.
O espaço interno no Stilo é maior, principalmente no banco traseiro. A posição de dirigir também é melhor. Os dois carros têm ajustes de altura assento do motorista e de altura e profundidade do volante. Por causa do teto solar, o Stilo peca no espaço para a cabeça. Também perde no porta-malas: 380 litros contra 420 litros do 307.
Peugeot vence na porta do lápis
O Fiat Stilo é mais barato. Quem quiser levar um Dualogic, paga a partir de R$ 55.120, mas para efeito de comparativo, o Stilo que concorre com o 307 é mesmo o Sporting, que passa a R$ 63.490. O 307 custa mais, R$ 63.600, só que já vem com airbag duplo e freios ABS, itens essenciais de segurança. Se equipar o Fiat com estes opcionais, mais a pintura metálica (o Peugeot não tem cores sólidas), o preço pula para R$ 67.361.
O dono do Peugeot também vai pagar mais barato na hora de fazer o seguro. Em uma cotação em um perfil padrão, o prêmio saiu por R$ 4.670. Parece muito, mas não é perto do valor da apólice do Stilo: assustadores R$ 6.562. No conjunto da obra, o Peugeot 307 parece ser uma melhor compra.