Enquanto proprietário de um Gurgel BR800 que sou, tenho uma queda confessa por carros pequenos. Então foi difícil não se empolgar com o Renault Kwid. Carro de proposta bem simples: ser barato e acessível. E não é todo dia que uma montadora aparece com um modelo tão simples e honesto. Chamado de “SUV dos compactos”, o Kwid recebeu uma versão mais enfeitada chamada de Outsider. É dela, e dos R$ 43.990 que ela cobra, que falaremos hoje.
Ou vocês não entenderam o Kwid, ou a Renault entendeu vocês
Se o carro já era o SUV dos compactos, qual é o intuito de se fazer uma versão com apelo ainda mais aventureiro? Parece um mistério, mas não é preciso nenhum mestre dos magos para explicar. Quem compra um carro barato não quer aparecer em casa com um carro com cara de barato. É aí que entra a controversa genialidade da versão Outsider.
Há muitas décadas o governo quis dar uma taxação menor para carros mais baratos. Daí saíram carros de fato “pelados”, como o Fusca Pé de boi ou o Renault Teimoso, onde lanternas traseiras e quebra-sol eram equipamentos opcionais. Como desde aqueles tempos ninguém quer chegar em casa com um carro barato, comprava-se o “pé de boi” e se enfeitava o carro posteriormente até parecer uma versão normal.
E daí? E daí que, se a Renault viu uma oportunidade em vender o seu carro mais barato cobrando mais caro apenas para deixá-lo com uma cara menos pé de boi, significa que vocês podem até considerar o Kwid, mas não admitem para si mesmos que só queriam um carro barato. Você queria o carro barato, bonito e bom. Isso é mais raro de acontecer do que uma aparição oportuna do mestre dos magos. O Kwid é ótimo em ser bom e barato, se você o quer mais bonito, gaste a mais na versão Outsider por seu custo e risco.
Tem tudo o que Kwid Intense tem e mais um pouco
Graças a Deus não estamos mais em um tempo em que “completo -ar” é algo para se gabar em anúncios. Hoje, um carro por mais básico que seja não trazendo ao menos ar-condicionado e direção assistida vira mico de mercado na revenda. O Kwid já traz isso, exceto pela versão mais básica, onde até mesmo aquela função dia/noite do retrovisor interno é opcional.
Na Zen, já se tem o famigerado “kit dignidade”, com ar-condicionado, direção com assistência elétrica, travas elétricas e vidros elétricos dianteiros, além de um útil rádio com conectividade via Bluetooth e entrada auxiliar para ouvir as músicas do celular e não ficar refém da Voz do Brasil enquanto ouvindo rádio e parado no trânsito.
Subindo para a Intense, a antiga topo de linha, acrescenta-se computador de bordo, conta-giros, central multimídia com tela sensível ao toque e compatibilidade com Android Auto e Apple Car Play, espelhos com regulagem elétrica, câmera de ré e faróis de neblina.
Já o Outsider adiciona por fora grade, calotas (o Kwid não oferece liga-leve para as rodas de 14” em nenhuma configuração) e espelhos externo pintados de preto brilhante, rack de teto (não é funcional), “borrachão” plástico nas portas, uma vez que as demais trazem apenas adesivos no lugar. Por dentro, ganhou pitadas de laranja na cabine e na manopla de câmbio. Os bancos, também com toques de laranja, receberam um tecido exclusivo.
A mecânica é a mesma para todas as versões do Kwid, que traz um motor 1.0 12V flex aspirado capaz de entregar 70 cv de potência e 10 kgfm de torque com etanol. Com gasolina, respectivamente, os números são 66 cv e 9,6 kgfm. A única opção de câmbio é manual de cinco velocidades.
Nas medidas, o modelo tem 3,68 m de comprimento, 1,58 m de largura, 1,47 m de altura e 2,42 m de entre-eixos. O porta-malas tem capacidade para abrigar até 290 litros de bagagem. O peso declarado do Renault Kwid é de 786 kg.
As mudanças que realmente importam
Além de estrear a versão Outsider, prometida para o Renault Kwid desde seu lançamento, a linha 2020 do “SUV” dos compactos tem outros méritos. O principal deles é uma melhoria nos freios. Todas as configurações receberam discos de freio ventilados na dianteira, antes eram sólidos e mais suscetíveis à fadiga em utilizações severas.
A central multimídia, nas versões que a possuem, agora também é compatível com aplicativo de espelhamento de smartphones e sua entrada USB está em posição mais cômoda, à frente da alavanca de câmbio e não mais na face da tela em posição elevada. Essas alterações valem a partir da linha 2020.
Andando e concluindo
Quer uma resposta rápida? Se você gostou do visual e encara pagar os cerca de R$ 2,1 mil a mais por design, fique com o Outsider. Se não, economize a grana e pegue a versão Intense. É o que eu faria inclusive.
Explico: como a versão Outsider traz apenas novos itens de apelo visual, não supera a versão logo abaixo dela no custo x benefício. Se você considerar que o Kwid é um carro de entrada feito para ser barato e acessível, racionalmente não há motivo para gastar mais no Outsider.
Não há nenhum ganho expressivo de qualidade, uma vez que os defeitos do Kwid permanecem os mesmos, como a cabine estreita, o motor ruidoso e a trepidação em marcha lenta. Os predicados também são exatamente os mesmos, com desempenho ágil, conforto mais que aceitável para a faixa de preço, facilidade de manobra e o consumo de combustível.
Declarado no Inmetro, o consumo para o Kwid é de 10,3 km/l na cidade e 10,8 km/l na estrada quando abastecido com etanol. Para gasolina, respectivamente, os números são 14,9 km/l e 15,6 km/l. Quanto obtivemos durante nossos testes? 10,1 km/l em ciclo urbano com etanol, o que é excepcional considerando o trânsito que o carro encarou e que raramente um carro se aproxima de seu consumo declarado.
Em suma, se você é racional continue com o Kwid Intense, ou Zen para ter ao menos o kit dignidade, pois, usando a razão, não há motivo para gastar mais em o que é, no frigir dos ovos, enfeite.
Eu ficaria com o Intense. Mas como estamos no Brasil e aqui não se compra carro apenas com a cabeça a Renault pode ter nas mãos o “mapa da mina” para fazer sucesso com o Outsider, pois nosso mercado reage bem às alterações que melhoram o visual. Talvez eu precise falar com o Mestre dos Magos para entender isso.
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