Ford Ka Freestyle 1.0: um suspiro de aventura | Avaliação

10/10/2019 - Texto e fotos: Thiago Moreno

Fonte: iCarros

Será um retorno dos aventureiros? Outrora uma verdadeira coqueluche do mercado Brasileiro, os hatches altinhos de apelo aventureiro pareciam caminhar para o desuso após terem “estourado a boca do balão”, como diria minha avó, após a estreia do VW CrossFox. Com os SUVs em alta, o espaço para esses carros parecia ocupado. Ou será que não, enquanto os utilitários apenas sobem de preço, o buraco de preço apareceu de novo e é ele que o Ford Ka Freestyle 1.0, de R$ 56.690, quer ocupar.

Por que é aventureiro?

Começando pelo motivo de a Ford ter mais um Ka Freestyle na linha, lembrando que a opção já estava disponível para o modelo com motor 1.5. Segundo a marca, o Freestyle seguiu o preceito de foco nos dez itens mais desejados pelos consumidores ao escolher um veículo: posição mais alta de dirigir, robustez, resistência, melhor visibilidade, potência, segurança, perfil aventureiro, espaço interno, confiabilidade e dinamismo.

A real é que a versão 1.5 Freestyle já correspondia a 10% de todas as vendas do Ka, mesmo sendo a versão mais cara, então havia uma oportunidade para quem queria o visual em uma opção mais barata e é aí que entrou o Freestyle 1.0

Ele traz itens exclusivos de diferenciação, como A grade dianteira e rodas de liga leve em cinza perolizado, os faróis com máscara negra e a moldura preta no contorno da carroceria são alguns dos itens exclusivos do Ka Freestyle 1.0. O interior teto preto e painel marrom escuro, combinação usada também no console e frisos das portas.

Os bancos revestidos de couro e tecido trazem duas faixas em tom mais claro no centro e costuras aparentes. As soleiras exibem apliques escovados com o nome FreeStyle. Os tapetes da cabine e do porta-malas são de borracha, com formato de bandeja que facilita a retirada e limpeza.

Entre as mudanças mecânicas, as que realmente importam, os pneus têm medias maiores, usando 185/60 nas rodas de 15 polegadas. Os amortecedores também receberam calibração específica, como aconteceu no modelo 1.5. Vale salientar que o rack de teto é funcional e suporta até 50 kg.

A barra estabilizadora dianteira ficou 23 mm mais espessa e a bitola (distância entre as rodas de um mesmo eixo) é 30 mm maior. O eixo traseiro também ficou 30% mais rígido. Assim, diz a Ford, a altura livre do solo de 188 mm não altera a dinâmica do carro. Os coxins de motor passaram a ser hidráulicos.

Itens de série

A configuração Freestyle do Ford Ka é baseada na versão SE Plus e traz de série direção elétrica e suspensão com calibração especial, controle de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, rodas de liga leve de 15 polegadas, faróis de neblina, molduras nos para-lamas, soleiras nas portas e rack.

 

Por dentro traz bancos revestidos parcialmente de couro, ajuste de altura do banco do motorista, ajuste de altura do volante, tela flutuante de 7 polegadas da central multimídia SYNC 2.5, com conectividade via Android Auto e Apple Car Play. Sensor de estacionamento traseiro, ar-condicionado, travas, vidros e retrovisores elétricos completam a lista.

Mecânicas e medidas

Sem mudanças, o propulsor sob o capô do Ford Ka Freestyle está o mesmo motor 1.0 flex de três cilindros com comando variável de válvulas que equipa as demais versões, sem mudanças. A potência é de 85 cv com etanol ou 80 cv com gasolina. O torque, respectivamente, é de 10,7 kgfm e 10,2 kgfm. O câmbio é sempre manual de cinco marchas.

Abastecido com etanol, o Ka Freestyle acelera de 0 a 100 km/h em 15,1 segundos. Os dados de consumo declarados pela Ford são, com etanol, de 9,1 km/l na cidade e 13 km/l na estrada. Com gasolina, respectivamente, são 10,4 km/l na cidade e 15,1 km/l.

Nas medidas, o Ka Freestyle tem 3,94 m de comprimento, 1,56 m de altura, 1,77 m de largura, 2,49 m e o vão livre em relação ao solo é de 188 mm. O bagageiro acomoda até 257 litros e o peso declarado do carro pela Ford é de 1.086 kg.

Como anda?

Seguindo a filosofia do “um SUV para quem não tem dinheiro para um SUV”, o Ka Freestyle conta com um bom acerto de suspensão para um carro “erguido”, algo que mexe profundamente com a dinâmica do carro e é o motivo de toda a calibração de suspensão ser específica.

Sem perder as qualidades de um Ford como os conhecemos, ou seja, bom de curva, o Ka mais alto melhora a absorção de impactos da nossa zona de guerra que chamamos de ruas brasileiras. Valetas e lombadas também são vencidas sem muito estresse.

Continuando os pontos positivos do Ka Freestyle, as alterações visuais do Freestyle são de bom gosto. Nada forçadamente aventureiro, mas passando a mensagem de diferenciação claramente. Por dentro se vê a melhora parte. O painel marrom e os bancos bicolores dão um tom de bom gosto para um segmento de entrada.

E também precisamos falar da transmissão. Com muita sorte, venho em uma sequência fora do comum de carros manuais. Contem aí: VW T-Cross, Nissan Kicks e Fiat Toro. Se precisasse classifica-los por prazer ao dirigir, a ordem seria Toro, T-Cross e Kicks. E o Ka 1.0 Freestyle supera todos eles nesse quesito. Engates curtos, sensação de conexão mecânica, precisão e leveza, sendo a última qualidade uma evolução sobre os antigos manuais da Ford, um tanto pesado.

O que mais impressiona, no entanto, é que ainda estamos falando fundamentalmente de um carro de entrada, que não tem, em tese, o menor compromisso com o prazer ao dirigir. Mas junte à transmissão uma direção rápida e precisa com uma suspensão bem equilibrada e temos o carro mais prazeroso de dirigir entre os compactos de entrada atualmente.

Exceto pelo veteraníssimo VW Gol, mas isso é história para outro texto. Mas o motor 1.0 está no limite para o carro. Menos do que o carro entrega e os motoristas que andam sempre carregados ou com passageiros (nomeie um aplicativo de carona) já sentiriam falta de performance. No entanto, o consumo com gasolina na cidade durante os testes foi de 11,2 km/l. Melhor que o declarado pela montadora. Pode não andar tanto, mas não bebe.

Mas as qualidades param por aí. Como muitos Ka oferecidos para teste nos últimos anos, não veio sem alguns defeitos de montagem. O volante, por exemplo, tinha rebarbas nos plásticos, enquanto a pintura apresentava uma falha logo acima da maçaneta na porta do motorista.

Além disso, o Ford Ka já está começando a ficar atrás da concorrência em alguns quesitos. Um deles é o espaço no banco traseiro, pois tem um dos menores entre-eixos do segmento. A desvantagem é pequena, mas isso veio com o sacrifício do bagageiro, também entre os menores na comparação com a concorrência. Não há milagre: com pouco entre-eixos, ou tem-se espaço traseiro, ou tem-se um bom bagageiro. O Renault Kwid, apenas para exemplo, é apertado na segunda fileira, mas tem um porta-malas maior.

E daí?

O Ford Ka Freestyle entrega um design e cabine de bom gosto, um pacote correto de equipamentos de série é ótima dinâmica de condução para um segmento onde preço é o tema mais sensível. Só que tem um visual aventureiro desejável, mesmo que não seja o carro perfeito.

No que ele é perfeito é acerto o público para qual foi feito: quem quer o visual de um SUV sem sacrificar o bolso. E que ficará surpreso ao conduzir um carro que tem prazer ao dirigir. Se a concorrência tomar nota, há a chance de vermos uma nova primavera dos aventureiros.


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