Para um carro tão envolto em polêmica desde sua concepção, ouvir repetidamente a pergunta “quando é que começa a vender?” não é o que eu estava esperando. Por um lado é bom, pois chamou a atenção, por outro é ruim. O carro é o Mitsubishi Eclipse Cross, lançado em setembro de 2018. Estamos em junho e ainda tem gente que não sabe de sua existência.
A polêmica vem desde a escolha do nome. Eclipse era a alcunha de um famoso cupê turbinado da Mitsubishi que ficou famoso no primeiro filme da franquia Velozes & Furiosos. Só que o fenômeno da transformação do mundo num grande depósito de SUVs chegou também na Mitsubishi.
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Fazer um novo Eclipse nos moldes do antigo não seria rentável. Não usar o nome novamente seria assumir o risco de deixar um grande nome no armário. A solução que Mitsubishi seguiu já sabemos. Aqui não há certo ou errado, pois a polêmica em nada atrapalha o Eclipse Cross e todas as suas qualidades. Vão por mim, ele me surpreendeu e eu não tinha me surpreendido até agora em 2019.
Quanto vale o show?
A Mitsubishi oferece o Eclipse Cross no Brasil em duas configurações. HPE-S e HPE-S S-AWC, que custam respectivamente R$ 149.990 e R$ 157.990. Os equipamentos de série são os mesmos em ambas, o que muda é que a primeira tem tração apenas dianteira e a segunda tem tração integral.
O que tem de série?
Independentemente da versão, o Eclipse Cross traz de série seis airbags, bancos revestidos de couro, ar-condicionado de duas zonas, freio de estacionamento eletrônico, direção elétrica com ajuste de altura e profundidade, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.
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Além disso, o SUV da Mitsubishi traz faróis com acendimento automático, teto solar panorâmico, retrovisores com rebatimento elétrico, piloto automático adaptativo, alerta de tráfego cruzado, controle de tração e estabilidade, monitoramento de ponto cego e central multimídia com GPS, Wi-Fi, Android Auto e Apple CarPlay.
O carro testado que aparece nas fotos tem tração integral. Assim, o Eclipse Cross é capaz de distribuir a força não somente entre os eixos dianteiro e traseiro, mas também para cada lado do carro. Assim, é possível fazer curvas com mais velocidade e segurança, além de facilitar a transposição de terrenos acidentados.
Cabe na minha vaga?
Como as vagas variam conforme o local, eu posso lhes passar as medidas do Eclipse Cross para você comparar com a sua vaga. O SUV da Mitsubishi tem 4,40 m de comprimento, 1,80 m de largura, 1,68 m de altura e 2,67 m de entre-eixos, sendo bastante parelho ao Jeep Compass nas medidas (4,41 m de comprimento, 1,81 m de largura, 1,63 m de altura e 2,63 m de entre-eixos). O porta-malas do SUV médio da Mitsubishi carrega 473 litros, mas tem um porém.
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O Eclipse Cross tem um banco traseiro deslizante e com encosto regulável. Ótimo para o conforto dos passageiros, mas significa que o volume declarado do bagageiro só vale para quando o banco traseiro está todo para frente e com o encosto quase na vertical. Nessa posição, não há espaço para as pernas. Para levar passageiros, acaba-se sacrificando o espaço do porta-malas.
Motor e câmbio
Sob o capô está um motor 1.5 16V de quatro cilindros sobrealimentado por turbo. Apesar de rodar apenas com gasolina, entrega bons 165 cv de potência e 25,5 kgfm de torque já aos 1.800 giros. A transmissão é automática do tipo CVT com oito marchas simuladas. Como dito, o carro testado tinha tração integral.
Há modos de tração disponíveis e acionados por meio de botão no console central. Só que as opções são AUTO, SNOW (neve) e GRAVEL (cascalho). Claramente deixei sempre no AUTO. Mas se você quiser, há um modo na tela do computador de bordo em que você pode acompanhar quais rodas de cada eixo estão recebendo força.
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Mas preciso comentar um pouco mais sobre o câmbio CVT. Quando peguei o carro, ainda não tinha feito a lição de casa e não sabia que era CVT. Isso é um tremendo elogio para uma transmissão desse tipo, pois é comum que essa caixa seja um tanto chata para conduzir, podendo fazer o motor ganhar muito giro com pouca aceleração.
No caso do Eclipse Cross, nada disso. Acelera suave, não gera estranheza e, quando se usa o modo manual para acessar as 8 marchas simuladas, parece um automático convencional. Foram poucas as vezes em que realmente percebi se tratar de um CVT, como ao dobrar esquinas. Ao reacelerar, o giro subia mais do que esperado. Mas só. Se não tivesse pesquisado a respeito, ainda acharia que era um automático convencional.
O resultado é uma condução bem tranquila quando se trata do trem de força. E também consumo. Os números declarados são de 10,2 km/l em ciclo urbano e 11,6 km/ em ciclo rodoviário. Durantes os testes, a pior média foi 7,5 km/l em trânsito parado e a melhor foi 13 km/l em vias expressas com velocidades constantes.
E esse visual?
Qual, esse que fica bonito na dianteira do Eclipse Cross? Ele segue bem a cartilha dos SUVs da Mitsubishi, com os filetes cromados acompanhando a grade. Cai bem no Eclipse pois dá o tom robusto que os clientes procuram, mas não deixa a frente do carro trambolhuda como em alguns SUVs.
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A traseira sim, essa dividiu opiniões. Foi uma escolha da marca. Ousar e arriscar ser criticada ou fazer uma traseira igual a todo mundo. A escolha da Mitsubishi foi bem clara e eu admiro quando as marcas arriscam e se diferenciam. Depois de alguns dias passei até a gostar da grande barra transversal que faz as vezes de lanterna e luz de freio. Os volumes nos cantos do para-choque traseiro me incomodaram mais.
E dirigindo?
A cabine do Eclipse Cross te remonta diretamente aos modelos da Mitsubishi. Boa qualidade de montagem, bastante uso de materiais macios o toque, mas, como não é o topo de linha da marca, você até encontra alguns plásticos rígidos aqui e ali.
Ao conduzir, o Eclipse Cross parece mais largo do que realmente é atrás do volante, mas como seus cantos são bem quadrados, não é difícil manobrá-lo. Mas fica a ressalva: a câmera de ré é um tanto lenta no acionamento, se você depender apenas dela tem que esperar.
A imagem da câmera aparece na central multimídia que é bem fácil de usar e já tem conectividade via Android Auto e Apple Car Play. Na maioria das vezes você nem percebe seu funcionamento. Até o Sol bater diretamente na tela e você perceber que ela reflete muita luz e você deixar de ver as informações que estão lá.
Como foi dito, o Eclipse Cross é um carro muito confortável de guiar, apesar de lançar mão das grandes rodas de 18 polegadas, filtra as imperfeições do asfalto numa boa. Silêncio também vale destaque. Mas é bom ficar atento: sem noção de barulho e com um motor sempre disposto, é bem fácil se pegar cima do limite de velocidade.
Com uma boa lista de equipamentos de segurança, vale destacar o controle de cruzeiro adaptativo. Em alguns modelos, quando um carro entre em sua frente, o sistema freia de maneira brusca. No Eclipse Cross, a operação é bem mais suave.
No entanto, o monitor de ponto cego apita toda a vez em que você dá seta e tem alguém no ponto cego. É seguro, mas leva tempo para se acostumar. Enquanto isso, o assistente de permanência em faixa também apita, mas não atua no volante e só te avisa quando você está praticamente na outra faixa já. Ajuda, mas não conte apenas com ele como se fosse um carro quase autônomo.
Assim como vocês, também achei que a visibilidade traseira seria bem prejudicada com a barra transversal das lanternas atravessando a tampa do porta-malas. Não é. Na maioria do tempo, ela cobre apenas a linha dos faróis do carro que está imediatamente atrás. Claro que ainda não é o ideal, mas não é nenhum terror e não te colocar em risco.
Conclusão
Chegando nos finalmentes, a impressão geral que eu tive do Eclipse Cross foi “como que o pessoal não sabe que esse carro existe?”. Ele tem preço de Compass, porte semelhante, é mais equipado e moderno, apesar de pequenos pontos negativos (nenhum carro é perfeito). Eu também quase tinha esquecido dele, relembrei e me surpreendi.
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