11/04/2019 - Texto e fotos: Thiago Moreno / Fonte: iCarros
Uma das vantagens da plataforma modular SPA da Volvo é que toda a sua linha de carros com tal “esqueleto” compartilha os mesmos motores, câmbios, equipamentos, acabamentos e, principalmente, os itens de segurança. Então, S60, XC60 e a V60 T5 Momentum aqui testada são basicamente o mesmo carro em corpos diferentes. Se é assim, por que mais pessoas não economizam os cerca de R$ 45 mil e levam a perua para casa (R$ 209.950) ao invés de um XC60?
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Perua é escolha racional e de menor preço. Uma pena que não somos racionais
Vamos lá, se você quer realmente um SUV, pelo menos admita que é apenas pela imagem. A perua vai te oferecer o mesmo espaço, 90% da praticidade, maior economia de combustível, melhor dirigibilidade e até mais conforto cobrando muito menos. E, se você se importa em ser discreto por questões de segurança, as peruas chamam muito menos a atenção sem deixarem de serem belas.
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Quão menos elas cobram? Em resumo: você paga preço de carro médio em SUV compacto. Foi assim com a VW Golf Variant e o T-Cross. A primeira, derivada do médio Golf, se assemelhava em valor ao segundo, que se deriva do Polo, com vantagem em segurança, consumo, equipamentos e segurança. Mas ninguém comprava uma Golf Variant, ou poucos o faziam.
Uma gigante em terra de SUVs “compactos premium”
Voltando a V60, ela é vendida em versão única T5 Momentum, que custa lá seus R$ 210 mil. Nessa faixa de preço, entre SUVs, os principais rivais são, dentro de casa, o XC40 da mesma versão T5 Momentum, Audi Q3, os BMW X1 e X2 ou ainda Honda CR-V.
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Tirando o XC40, que tem nível similar de motorização e equipamentos, mas perde em espaço. A Volvo V60 leva vantagem em tamanho, motorização e itens de série.
Volvo V60: o que ela traz de série?
Mesmo sem ser a configuração mais completa da Volvo (reservada às versões Inscription), a V60 T5 Momentum vem carregada. Tem a famosa central multimídia de tela vertical de 9 polegadas, conectividade via Android Auto e Apple Car Play, GPS integrado e 10 alto-falantes espalhados pelo carro. O painel de instrumentos também é totalmente digital e configurável.
Na conveniência, traz ar-condicionado (de duas zonas), direção com assistência elétrica e trio elétrico. Brincadeira, tem muito mais. Os assentos são revestidos de couro e possuem regulagem elétrica, sendo que o do motorista tem memória não só para o banco como também para os espelhos externos. Os faróis têm acendimento automático, assim como é automático o acionamento dos limpadores de para-brisa.
Segura? Se liga, é uma Volvo
A V60, como uma boa Volvo que é, destaca-se em itens de segurança. E não é só assistente de partida em rampa, auxiliar de manutenção de faixa, monitor de ponto cego, faróis de LED ou piloto automático adaptativo. Isso você vê até em Jeep Compass.
Aqui estamos falando de um território em que a Volvo está na vanguarda. O sistema Pilot Assist. Até 130 km/h, qualquer carro da série 60 da Volvo, S60, V60 ou XC60, se guia de forma autônoma e o motorista tem apenas que manter a mão no volante. Isso é difícil de achar na casa dos R$ 200 mil.
Volvo V60: medidas e ficha técnica
Gosta de carro grande? A V60 tem 4,76 m de comprimento e pesa 1.729 kg. Entre-eixos? 2,87 m. Porta-malas? São 529 litros. As demais medidas são 1,42 m de altura e 1,85 m de largura. O tanque de combustível comporta 55 litros de gasolina.
Assim como no S60 e no XC60, a V60 conta com suspensão dianteira “duplo A” enquanto a traseira é independente multi-link. Os freios são a disco nas quatro rodas. Para o Brasil, apenas a configuração de tração dianteira da V60 é importada.
Embaixo do capô está um motor usado em praticamente todos os carros da Volvo oferecidos no Brasil atualmente: um 2.0 turbo a gasolina capaz de entregar 254 cv de potência e 35,7 kgfm de torque. A única opção de transmissão por aqui é automática de oito marchas. O resultado é uma aceleração de 0 a 100 km/h declarada pela marca de 6,7 segundos.
Não vou nem tentar ser imparcial
Até porque não tem como. Sou dono de uma Parati quadrada e defensor das peruas como o carro certo para quem precisa de espaço e praticidade, mesmo que seja uma batalha perdida. Impressões sobre a Volvo V60? Ótimas.
Eu sabia que, como todo o Volvo, a V60 seria extremamente confortável e com um acabamento impecável que lembrou até de emborrachar as partes inferiores dos painéis de porta. Painéis estes recobertos de feltro nos bolsões para evitar que as bugigangas fiquem rolando pra lá e pra cá e quebrando a serenidade de uma viagem de V60.
Assim como todo Volvo, até quatro adultos viajam bem confortáveis, o quinto lá no meio do banco de trás se atrapalha um pouco com o elevado túnel central. O bagageiro, grande trunfo de qualquer perua, é enorme, conta com diversos ganchos e traquitanas para organizar as coisas e tem até uma simpática cortina que pode cobrir tudo, ficar totalmente retraída ou deslizar para cima, facilitando a colocação e retirada dos itens. Ação aliás, que é bem mais fácil nas peruas, uma vez que altura do assoalho é bem menor que a de qualquer SUV.
Tem o design da Volvo V60, que é lindo, nem tem motivo para ficar de rodeios. Claro que as proporções da carroceria de uma perua ajudam, mas a marca virou mesmo em fazer linhas simples e elegantes. Daquelas que quanto mais você olha, mais admira.
Mas o que me impactou mais foi a diferença de meu comportamento com o SUV XC60 para o com a V60. Com o primeiro, aproveitava o tamanho para conseguir fazer algumas mudanças de faixa com menos esforço, ou até mesmo cobrar passagem de alguém mais lento a minha frente. O carro era grande e imponente e eu me aproveitei disso, apesar de ser um comportamento repreensível. No final do dia, estacionava o XC60, virava as costas e pensava o que eu faria para jantar.
E sou daqueles que sempre fala que se você desce do carro e não dá pelo menos uma olhadinha para trás, para ver o carro mesmo, você comprou o carro errado. O XC60 não era meu, por sorte. A V60 foi o total oposto.
Com a perua, parei na garagem, olhei para trás, fiquei reparando na beleza da carroceria, mostrei para o vizinho de vaga como o carro era legal, tirei foto, tirei outra foto para mostrar pra mãe como a V60 era bonita. Mas o que eu mais queria era voltar para o banco do motorista.
Sim, usei e abusei do sistema de condução semi-autônomo para passar a parte chata do trânsito, o que me animava mais ainda para encontrar uma pista livre para curtir o carro. E assim parti para uma isolada, mal cuidada e, principalmente, sinuosa estrada na periferia da capital paulista que liga um antigo quartel da PM a um desativado hospital psiquiátrico. Vulgo “nada a lugar nenhum”.
Meu pensamento era que, caso eu fosse sentir falta de um SUV por algo além da posição elevada de dirigir, ali seria o lugar. E não senti. Senti falta de mais peruas no mundo. Com a V60, ataquei curvas em desnível, com buraco no meio, sem asfalto em trechos e tudo claramente dentro dos limites de velocidade.
Mesmo em situações que fariam um carro mais alto (cof cof, SUV) perder o equilíbrio no meio de uma curva, a perua segurou firme. Claro que o centro de gravidade é um pouco mais alto que um sedã e isso era percebido nas transições de uma curva para outra. Mas, perto de um SUV, anos-luz mais na mão.
Nem um pneu cantando a V60 demonstrou. Claro que com a tecnologia de hoje em dia, um SUV qualquer mais aprumado aí de um segmento dito premium consegue grudar em curvas. Mas quem entrega o ouro são os pneus. Não tem mágica contra a física: peso elevado e centro de gravidade alto cobram seu preço nos pneus, que assobiam no limite. Com as peruas é preciso muito mais esforço para fazer os pneus perderem aderência.
Se tem algum defeito na dinâmica da Volvo V60, passou em branco.
É carro para quem gosta de dirigir, não de aparecer
Apesar do tom mais jovial dessa avaliação, espero ter mostrado que está tudo bem com a sua escolha por um SUV, desde que você admita que o está fazendo pela imagem, não pela racionalidade do ato. A perua é melhor de dirigir, mais econômica, tão prática e equipada quanto um utilitário e não faz questão de pendurar uma melancia no seu pescoço toda vez que você sai da garagem.
Um dia as peruas irão morrer por completo. Aí quem sabe nós sentiremos falta do que perdemos.
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