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Test-drive com a S10 High Country 2022

Picape da Chevrolet incorpora acessórios e recursos de SUVs de luxo, mas continua sendo fundamentalmente “raiz”

23/07/2021 - Henrique Koifman/ RF1 / Foto: Henrique Koifman / Fonte: iCarros

Quando o assessor de imprensa da Chevrolet me ligou oferecendo uma S10 High Country para uma avaliação de uma semana, pensei: 5,4 metros de comprimento e quase 1,90m de largura para dirigir pelas congestionadas ruas do Rio, estacionar… E, respondi: claro, quando eu posso buscar? 

Incoerente? É, não há como negar. Um carro como essa S10 definitivamente não é a melhor opção para o uso urbano, pelo menos na maioria das grandes cidades brasileiras.

Não somente por seu porte, mas por (quase) toda a sua personalidade, que não combina em nada com trânsito pesado e engarrafamentos, vagas em condomínios, shoppings e ruas etc.  

Afinal, uma picape assim é projetada para o trabalho pesado, as estradas e os caminhos nem sempre pavimentados do interior e, nos trajetos da minha rotina, pode até parecer até um peixe – ou, quem sabe, uma baleia – fora d’água.  

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Sim, tudo isso que o juízo aponta é verdade. Mas há um outro lado nessa história. Com um motor turbodiesel que rende 200cv de potência, 51 kgfm de torque e um rugido que vale como uma trilha sonora, essa S10 é também uma picape bem divertida de dirigir, ainda que nas condições descritas acima.

E, afinal de contas, eu não iria comprá-la, apenas usá-la por uma semana. 

Além disso, dirigindo em uma posição elevada e com boa visibilidade – por vidros e espelhos compatíveis – dá para controlar bem o entorno e, é óbvio, o porte do carro impõe respeito (e inibe ousadias alheias) no trânsito.

No final das contas, bastou um pouquinho de paciência, dirigindo sempre com o modo “zen” ligado, para contornar raros e pequenos contratempos urbanos.  

Já éramos íntimos 

Antes de ir adiante, vale contar que esta é a quarta S10 cabine dupla 4x4 com essa mecânica que avalio nos últimos três anos. E isso quer dizer que já tenho intimidade suficiente com ela para enfrentar as tais dificuldades de tamanho sem tanto esforço – ou, pelo menos, sem sustos. 

E isso quer dizer que eu não trato essa picape – assim como a nenhum outro veículo desse porte com uma distribuição de peso e centro de gravidade semelhante – como um “carro de passeio”, nem na cidade, nem na estrada, qualquer estrada, ainda que seja equipada com um bom pacote de itens de conforto e de segurança. 

Ela é obviamente bem maior, mais pesada e mais alta que a maioria dos carros, e mesmo SUVs mais comuns. E, por isso, deve ser dirigida de um jeito um pouco diferente também, exigindo mais cuidado com curvas, freadas e manobras. 

E é só você dirigir por alguns minutos que logo vai perceber as consequências de ela ter um centro de gravidade mais alto e sentir a transferência de suas mais de duas toneladas de peso, bem maior que a de um carro comum, nas arrancadas, curvas e freadas.

Freadas, aliás, que por tudo isso, devem começar um pouco antes do que você faria com um veículo mais leve. 

Some ao pacote o tal motorzão cheio de força e disposição, acoplado a um câmbio automático que faz as trocas com certa agilidade, e o resultado é um veículo que ganha velocidades altas bem rápido, de zero a 100 km/h em pouco mais de 10 segundos, chegando a 180 km/h de máxima limitada eletronicamente.  

Daí que, antes de se sentar ao volante de um carro como esse, verifique se trouxe consigo as necessárias doses de juízo e de responsabilidade. Tendo isso em mente, toda essa fartura – de tamanho, peso, altura e força – tornam a experiência de guiar a S10 bastante divertida e prazerosa. 

Força, espaço, conforto (mas nem sempre) 

Mesmo com os cinco assentos ocupados, como em uma viagem mais longa que fiz com esse modelo, levando também uma boa quantidade de bagagem na caçamba, você tem a impressão que seus poderes são, hum, ilimitados.

É roçar o pé no acelerador que os já mencionados 51 kgfm de torque se apresentam bem-dispostos, movendo as tais mais de duas toneladas como se fossem isopor. 

O motor diesel ronca afinado, mas não chega a incomodar quem não é tão fã dele como eu graças a ao bom isolamento acústico e ao sistema CPA, que reduz as trepidações da máquina.

A direção tem assistência elétrica e transmite a sensação de que o carro está sempre na mão e os freios trabalham bem, lembrando sempre, como mencionei, as características de um veículo desse tipo.  

A posição de dirigir é outro ponto alto e, nesta versão “top” High Country, fica mais fácil de encontrar graças às várias regulagens elétricas no banco. No volante, só dá para ajustar a altura, mas vale lembrar que, a despeito do nome pomposo, esse carro é uma picape tradicional, e não um daqueles modelos de passeio que envolvem o motorista como terno italiano. 

Para os passageiros, o conforto no banco de trás é muito bom. Há espaço de sobra para três, sem precisar encolher ombros ou pernas.

Com a caçamba vazia, por conta da tradicional suspensão de feixe de molas, calibrada (também) para carga e trabalho duro, a turma da retaguarda pode, claro, sofrer um pouco com buracos e outros obstáculos do caminho. 

Na caçamba, novamente o espaço é generoso. Poderiam estar ali mais alguns ganchos para amarrar as bagagens e outras cargas, além dos quatro localizados nos cantos.

Além disso, a prática capota marítima, que pode ser trancada com a tampa (que abre suavemente, com amortecedores a gás), barra a água, mas não evita que a poeira entre ali. 

Cidade, estrada, asfalto, terra e lama 

As mencionadas diversão e prazer proporcionadas pela S10 High Country são ainda maiores quando se tem a oportunidade de cair na estrada com ela. No ano passado, pude fazer isso, percorrendo ao todo 600 km entre asfalto e terra, em cerca de 10 dias ao todo.  

Na estrada, com cinco a bordo e mais bagagens, segui mantendo velocidades de cruzeiro de até 110 km/h (onde era permitido) sem esforço. Fiz ultrapassagens em trechos de mão dupla com segurança, graças à aceleração e retomadas rápidas e ao câmbio automático bem escalonado. 

Nos trechos de descida de serra, usei o freio motor, gerenciando manualmente a redução e avanço das marchas na alavanca de seleção – nesses momentos, borboletas no volante teriam sido mais práticas, claro. 

Nos trechos de terra, o generoso torque em baixas rotações e a ótima altura do solo dão tranquilidade para enfrentar mesmo as estradinhas mais maltratadas, com pedras e buracos grandes.

E, quando a lama ou subidas “ensaboadas” aparecem, a tração 4x4 (acionado por seletor no console) resolve – desde que, claro, não sejam condições extremas de off-road, pois não é essa a proposta. 

Traje de gala 

Seguindo a tendência surgida nos EUA há algumas décadas, as picapes brasileiras ganharam versões mais caprichadas em acabamento, recursos de conforto, e acessórios, se tornando mais atraentes para um público um pouco mais amplo e ocupando um espaço no mercado que, um pouco mais tarde, seria tomado pelos SUVs de maior porte. 

O caso é que, enquanto boa parte desses SUVs têm mais aparência de aventureiros que aptidão para caminhos ruins, as picapes como a S10 são realmente feitas para o trabalho duro e trajetos maltratados.  

Por isso, uma versão como a High Country acaba sendo uma ótima opção para quem frequenta tanto a zona rural quanto estradas asfaltadas e até, vá lá, cidades – embora pensar em um carro desses sendo usado apenas no asfalto urbano me soe meio estranho, confesso.

Pra mim, modelos assim devem frequentar a roça e andar empoeirados – como, aliás, você vê este nas fotos. 

Pelos pouco mais de R$ 244 mil de seu preço, ela vem com bancos em couro com regulagem elétrica, recursos de multimídia e conectividade (incluindo carregamento sem fio para celular e sistema wi-fi para até sete aparelhos), ar-condicionado digital, luzes diurnas de LED e uma longa série de acessórios estéticos e revestimentos caprichados. 

O mais importante, porém são os recursos de segurança, que contemplam seis air-bags, controles de estabilidade, tração e manutenção de faixa, aviso de ponto cego, alerta de colisão frontal com frenagem de emergência automática (a até 80 km/h).  

Com tudo isso, ela sai por cerca de 4% a mais que a versão logo abaixo dela, a LTZ, que não tem muitos dos acabamentos nem alguns desses recursos do time dos anjos da guarda. Taí uma economia que eu, se fosse comprar uma S10 cabine dupla turbodiesel 4x4 não faria. 

Vamos à ficha técnica da versão High Country 2022: (dados do fabricante) 

Motor dianteiro, longitudinal, 4 cilindros, 2.800cc, turbinado, a diesel 

Potência: 200cv 

Torque: 51 kgfm 

Desempenho 

Velocidade máxima: 180 km/h 

Aceleração 0-100 km/h: 10,3 segundos 

Consumo médio (km/l): Cidade 8,5, estrada 10,6 (nossa medição) 

Transmissão 

Câmbio automático de 6 marchas com modo manual 

Tração traseira com opção 4x4 e reduzida 

Direção com assistência elétrica 

Freios dianteiros a disco ventilados, traseiros a tambor 

Suspensão 

Dianteira independente com braços articulados, molas helicoidais, barra estabilizadora e amortecedores telescópicos hidráulicos pressurizados 

Traseira com feixe de molas semielípticas de 2 estágios e amortecedores telescópicos hidráulicos pressurizados 

Dimensões (mm) 

Comprimento total 5.408, Largura (carroceria) 1.874, Largura total (espelho a espelho) 2.132, Altura (máx.) 1.847, Distância entre eixos 3.096, 

Altura do compartimento de carga 584, vão-livre do solo: 228 

Caçamba: Comprimento 1.484, Largura 1.534 

Capacidades (litros) 

Tanque de combustível 76, Caçamba (até a borda) 1.061 

Rodas e pneus: Rodas em Alumínio 7,5J x 18, Pneus 265/60 R18" 

Peso em ordem de marcha: 2.101 kg 

Capacidade de carga 1108 kg 

Preço a partir de R$ 244.930  

 

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