Após mais de 12 anos longe das pistas, meu retorno ao mundo dos carrinhos de bate-bate foi um momento de constatações. A primeira é que estagiário não pode ficar à toa na redação, porque sempre sobra para o infeliz uma pauta como esta. A segunda é que quando pequeno, a sensação de velocidade parecia ser maior. Em compensação, as pancadas mostraram-se muito mais fortes hoje. A intensidade do impacto varia de acordo com o peso do condutor. Crianças pequenas não sentem tanto o choque, já os mais pesados sofrem mais, explica Edelson da Silva, operador da atração no Playcenter.
O antigo carrinho de bate-bate, modalidade também conhecida como Autopista, Carrinho de Choque ou Auto Loucos, continua sendo uma curtição para crianças e marmanjos. A bordo dos carrinhos e durante pouco mais de um minuto, a turma descarrega adrenalina e dá vazão aos seus impulsos mais perversos, distribuindo pancadas em quem cruzar à frente. Tão potente quanto um motor de enceradeira, o brinquedo colhe sua energia de uma tela energizada em 220 volts por meio de uma haste metálica instalada na traseira do carro. Nele, a alta voltagem é reduzida para 60V ou 90V, gerando a incrível potência de 1 cv.
Construídos pela Preston e Barbieri, fabricante italiana de atrações para parques de diversão sediada em Reggio Emilia, os carrinhos de choque chegam a custar até R$ 16.000 a unidade. Pela mesma quantia é possível comprar um Fiat Palio 2001. A carroceria construída em fibra de vidro esconde uma curiosa engenhoca. O motor é acoplado à coluna de direção e ao esterçar o volante, movimenta-se todo o mecanismo. É o que explica porque ele anda de ré quando se gira todo o volante. É fantástico, exalta César Richetto, supervisor de manutenção do Playcenter. Cabe a ele cuidar dos brinquedos do centro de recreação.
Bordoadas
Ao pisar fundo no acelerador, o Barbieri Azure (modelo avaliado na reportagem) instantaneamente imprime sua velocidade máxima de 4 km/h. Com este desempenho, o carrinho percorre os 12 metros de comprimento da pista em cerca de 11 segundos. O carrinho pesa, em média, 215 quilos. A única forma de levar choque é tocar na tela e pisar no acelerador ao mesmo tempo, explica Richetto. Os carrinhos em uso são de 1983 e foram comprados em 1997.
O cockpit comporta dois ocupantes, que se acomodam em bancos inteiriços revestidos de imitação de couro. Para manter a molecada inteira, o roadster dispõe de cinto de segurança de três pontos, volante acolchoado e um alerta sobre eventuais riscos de colisões frontais raramente respeitado. A brincadeira é indicada para motoristas com no mínimo 1,30 m de atura e até 90 quilos de peso. Só não pode brincar quem tem algum tipo de fobia ou gestantes, avisa Edelson.
Bate, bate, bate... Quebra
Por dia, cerca de 2.600 pessoas brincam na Autopista do Playcenter. Volume semelhante também é registrado nos parques Hopi-Hari, no interior de São Paulo, e Beto Carrero World. Com tanta rotatividade e infinitas batidas, uma hora os carrinhos acabam quebrando. O recondicionamento de motor e consertos na carroceria são as principais ocorrências, informa Acácio Simões, proprietário da oficina Eletro-Longarine, especializada na manutenção de atrações de parques de diversão.
Segundo Simões, que também conserta carrinhos de bate-bate da italiana Soli Viviane e da extinta fábrica brasileira Fionda, as peças italianas têm sido gradativamente substituídas por componentes chineses, que também estão invadindo o mercado de atrações para parques de diversão. Consertamos carrinhos de mais de 30 anos, afirma o especialista, comprovando que apesar do constante bate-bate, esses veículos com lateral emborrachada têm vida útil maior que a maioria dos carros de rua.
Safra nova
A nova safra de carrinhos de bate-bate chama-se Nostalgia (por ter desenho que remete aos sedãs dos anos 1940). Entre outras inovações, o modelo importado da Itália pelo Playcenter dispensa a haste metálica que conduz energia para o motor. Este, a propósito, não mudou. Entre os equipamentos de série, o Nostalgia fabricado pela Preston e Barbieri, não oferece nada além do que é encontrado no modelo Azure, por nós avaliado: cinto de segurança de três pontos, faróis e... só.