Por que não é bom misturar diesel com gasolina?

Silicone para hidratar os painéis de plástico... farinha de trigo para amaciar a direção hidráulica... Coca-Cola para limpar o radiador do carro… querosene para limpar os bicos injetores... Tudo errado!

Dicas absurdas, sem qualquer embasamento técnico e que podem acabar com seu carro, existem mais do que areia no deserto.

E a última da vez foi a seguinte: “misturar um pouco de diesel na gasolina melhora o desempenho do carro e ainda ajuda a economizar combustível”. Será?

Convenhamos, uma afirmação deveras sedutora aos olhos de uma legião de proprietários de automóveis sedentos por alternativas milagrosas para economizar combustível, dado que o preço da gasolina só aumenta.

Mas cuidar do carro é como ir ao médico. Da mesma forma que não devemos nos automedicar, precisamos sempre considerar a opinião de um profissional para evitarmos colocar em risco a saúde do carro e sofrer com prejuízos ou a desvalorização precoce.

Por isso, conversamos com Everton Oliveira, gerente da MixAuto Center Tatuapé formado em Engenharia Mecatrônica, para entendermos o que de fato acontece com o carro ao misturar diesel na gasolina. Confira na íntegra!

Diesel na gasolina: o que TikTok não te conta, mas você precisa saber

Acontece que esta polêmica ganhou força recentemente por causa de um vídeo publicado no TikTok com o título “Ninguém te conta, mas você precisa saber”, trazendo a tal receita mágica que mistura diesel na gasolina.

Mas essa história também rendeu vídeos no YouTube, onde os famosos “sabichões da Internet” fazem questão de parar em um posto de gasolina para abastecer o carro com os dois tipos de combustível e ainda se propõem a falar em valores:

“40% de diesel e 60% de gasolina”, “1 litro de diesel para cada 5 litros de gasolina”, “15 ml de diesel S10 a cada litro de gasolina”, “pode usar diesel como aditivo na gasolina a cada três meses”, e por aí vai.

De fato, chega a impressionar quando a partida é acionada e o carro começa a circular normalmente, sem quaisquer engasgos ou barulhos estranhos, como os da temida “batida de pino”.

Mas a tal fórmula mágica, que adiciona diesel à gasolina, não apenas é completamente ineficiente, como também pode ser drasticamente prejudicial para o carro a longo prazo.

O engenheiro mecatrônico Everton Oliveira, gerente da MixAuto Center, alega que misturar diesel e gasolina pode gerar problemas graves e até mesmo destruir o motor do carro:

“Por conta da composição de cada combustível, se você misturar os dois, o risco de acontecer a pré-ignição só aumenta. Aí, se quebrar a cabeça do pistão, você pode dar adeus ao motor do carro”.

Para entendermos, de fato e em detalhes, por que não se deve misturar diesel e gasolina, precisamos levar em consideração algumas diferenças básicas entre os dois combustíveis e seus motores. É o que veremos na sequência.

Diferença entre gasolina e diesel

Embora ambos sejam combustíveis para motor, diesel e gasolina possuem diferentes propriedades de composição que refletem em diversos aspectos técnicos, como temperatura de auto-ignição, densidade, ponto de fulgor, relação ar/combustível, taxa de compressão e emissão de CO2 durante a queima.

Basicamente, a principal diferença a ser levada em consideração neste caso é que a gasolina queima por centelha (ou seja, precisa de uma faísca para entrar em combustão) e resiste a altas temperaturas de detonação.

Enquanto que o diesel entra em combustão espontânea a altas temperaturas apenas pelo calor gerado pelo  ar comprimido.

O risco da pré-ignição

Quando se mistura gasolina com diesel, as explosões acontecem em momentos diferentes no motor ciclo Otto*, o qual não foi feito para operar sob tais condições.

*O motor ciclo Otto (também chamado “motor quatro tempos”) é o mais comum em automóveis, cuja ignição se dá através de faísca. Já a ignição do motor Diesel se dá pelo aumento de temperatura gerado pela compressão, sem a necessidade de centelha.

Logo, a queima ideal não acontece, você aumenta a quantidade de resíduos produzidos e partículas de carvão liberadas na câmara, e ainda corre o risco de haver a pré-ignição.

“A pré-ignição é quando o combustível queima antes da hora certa, antes do pistão chegar no ponto morto superior do cilindro. Se a explosão acontece fora de hora, o pistão recebe uma pancada de força contrária, capaz de quebrar a cabeça do pistão, o que acaba com o motor”, explica o engenheiro mecatrônico Everton Oliveira, da Mix Auto Tatuapé.

Além disso, o aumento da temperatura gerado pelas duas explosões consecutivas é tão alto que pode levar a outros problemas, como uma junta de cabeçote queimada, sendo este o menor de seus problemas. 

Misturar diesel com gasolina economiza combustível?

A lógica é tão simples quanto incorreta: adiciona-se diesel, que é mais denso, à gasolina para aumentar a densidade, aumentando também o poder de explosão da mistura no tanque e, consequentemente, garantindo um menor consumo de combustível.

Porém, é preciso levar em consideração que o aumento da densidade acaba sobrecarregando a bomba de combustível e todo o sistema de injeção. Afinal, estes componentes foram produzidos para operar com a densidade da gasolina, não do diesel.

Logo, se o diesel gera mais carbonização e precisa inclusive ter um sistema de pós-tratamento, a mistura com gasolina pode gerar danos em todo o sistema de injeção, o que, consequentemente, gera maiores transtornos e prejuízos com o carro.

Por isso, seguir as recomendações da montadora no Manual do Proprietário e a opinião de profissionais especialistas do meio automotivo é sempre muito mais vantajoso do que dar ouvidos a dicas milagrosas e sem qualquer fundamento técnico. Afinal, o barato sai caro.

Fonte: MixAuto Center

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