'É a sua vez', disse em voz baixa a assessora de Chip Foose, o designer-celebridade que transforma, na frente das câmeras de TV, latas velhas em obras de arte. Fui interrompido pela assessora no exato instante em que terminava de contar o número de fãs à espera de um autógrafo deste californiano de 45 anos de idade, numa interminável fila estilo banco em dia de pagamento.
A multidão aguardava no estande do Discovery Channel (canal a cabo que transmite o programa 'Overhaulin´') na X-Treme, feira de tuning realizada em São Paulo no mês de dezembro. Mais uma vez Foose, e não os carros transformados, foi uma das maiores atrações da mostra.
Onde quer que Foose vá, se forma uma multidão ao seu redor. No dia seguinte a esta entrevista, o designer, que começou a carreira aos nove anos de idade na oficina do pai, visitou a exposição dos finalistas do prêmio de design da Volkswagen: mal conseguiu ver os desenhos expostos na parede e tampouco admirar as linhas de um SP1 exposto no ambiente. Foi cercado por estudantes e por profissionais da área. Ninguém ficou sem um autógrafo do ídolo.
Desisti da contagem para seguir os passos da assessora. As portas da sala apertada cheirando à tinta fresca se abrem e Foose me recebe com um sorriso no rosto e com um exemplar da Car and Driver Brasil nas mãos. 'Gostei muito da revista', diz folheando as páginas. Segue então uma série de perguntas sobre as reportagens enquanto procuro um local para sentar.
Bem-humorado, um traço apontado por quem o conhece como sua grande virtude, além, é claro, da imensa habilidade em desenhar e construir automóveis, Foose inicia uma conversa sobre os veículos personalizados expostos no salão. 'Gostei do que vi. Os trabalhos são de alta qualidade.' Perguntado se via grande diferença entre o tuning brasileiro e americano, ele foi ligeiro: 'Sinceramente, só os carros são diferentes. Aqui, são mais simples.'
Essa foi a deixa para apresentá-lo ao Fiat Mille. Levava comigo quatro fotos do carro mais barato do país para propor o desafio ao designer: caso recebesse esse carro, que mudanças ele faria? Chip Foose examina as fotos e seu semblante muda, fica sério. Após um minuto de silêncio diz: 'Ok, desafio aceito.'
Explico que o Uno nome original do Mille mantém praticamente a mesma aparência desde o lançamento, em janeiro de 1983, e que foi desenhado por Giorgetto Giugiaro. 'Uau, que
responsabilidade!', exclama enquanto retira folhas de papel de uma pasta recheada de canetas-tinteiro.
Carro de praia
Após abrir espaço na pequena mesa de vidro, Chip faz o primeiro traço na folha em branco. Define a linha de cintura do carro e rabisca o formato dos faróis e das lanternas. A roda é a próxima a surgir. E como surge fácil... O designer trabalha rapidamente, seus traços são nervosos e a sua concentração é invejável.
Carroceria definida, surgem os detalhes como os faróis de neblina. Mas e o teto? 'O que você acha do Mille, Chip?'. 'É um visual bem simples, reto, clean'. Pergunto se é mais fácil mexer em um carro deste tipo. 'Sim, pois dessa forma
uso mais a criatividade', responde sem parar de desenhar.
Foose pega outro papel. Põe a folha com os primeiros traços sob a nova. Dessa vez, ele capricha nos detalhes. As canetas coloridas estão em suas mãos. O americano fica curioso em saber o preço do Fiat. 'Uns US$ 13 mil', informo. 'Nada mal', responde.
Em 15 minutos, não mais que isso, o 'Mille Foose', reproduzido acima, fica pronto. 'Coloquei rodas e freios maiores, uma lanterna com a base arredondada e, além disso, cortei o teto. Um belo carro para ir à praia, concorda?'
Fora da sala, a multidão aumenta. Chip se despede e vai ao encontro dos fãs para uma nova sessão de autógrafos, sem perder o bom humor: 'O público brasileiro é fantástico!'
Três perguntas para CHIP FOOSE
Existem brasileiros em sua equipe?
Não, não há brasileiros trabalhando comigo. Minha equipe é formada por 35 pessoas, todos americanos, à exceção de um sueco e de um mexicano.
Você conhece o trabalho de algum designer brasileiro?
Conheço o trabalho do Batistinha, um trabalho de alta qualidade. O Mustang Eleonor exposto no X-Treme está lindo.
Há planos de você customizar carros no Brasil?
Encerramos agora a quinta temporada do Overhaulin´ e estamos planejando as próximas. Na sexta edição vamos fazer uma caravana pelos Estados Unidos, customizando carros em diversas cidades. E para a sétima temporada a idéia é viajar por diversos países. O que posso adiantar é que o Brasil está nos planos.