Sabem aquelas duas velhinhas do bairro, que vivem brigando entre si? Uma está sempre querendo mostrar que é melhor que a outra e, quando uma faz plástica, a outra vai atrás para não fiar com a aparência ultrapassada. Esse mesmo contexto pode ser aplicado para a situação vivida entre as veteranas Chevrolet S10 e Ford Ranger.
A S10 foi lançada em 1995. A Ranger veio um ano antes importada dos Estados Unidos. Ganhou cidadania brasileira somente em 1998, mas desde a época em que vinha de fora, já disputava o mercado com a picape da GM. As duas travam, desde então, uma disputa acirrada e ainda sobrevivem na mesma geração com ligeiras mudanças. Assistiram à chegada das mocinhas Toyota Hilux, Nissan Frontier e Mitsubishi L200 na vizinhança, mas os fiéis fãs da Ford e GM não deixaram que estas picapes perdessem tanto espaço.
A última
plástica foi feita pela Chevrolet. E, por isso, a colocamos frente-a-frente com a velha inimiga. A Ranger não entra na mesa de cirurgia desde 2004, mas não se abala com isso. A picape da Ford tem um visual mais limpo que os apliques exagerados recebidos pela S10. E, para não dizer que ela está parada no tempo, a Ford passou a contar com uma suspensão renovada na
linha 2008 e a versão Sport para agradar os jovens admiradores. Ela, inclusive, motivou a volta da cabine simples na linha da rival.
Mesmo assim, a S10 justifica a liderança de mercado com a maior de suas vantagens: o motor flex. Ela é equipada com um propulsor de quatro cilindros de 2,4 litros. É o mesmo bloco que equipa o Chevrolet Vectra Elite, mas com cabeçote de oito válvulas, que rende 141 cv de potência (gasolina) e 147 cv (álcool) a 5.200 rpm e 21,9 kgfm de torque (com qualquer combustível) a 2.800 rpm.
O motor da Ranger é movido somente a gasolina. Ele tem 2,3 litros 16V de 150 cv de potência a 5.250 rpm e 22,1 kgfm de torque a 3.750 rpm. O que reduz o agravante do combustível é que a Ford oferece um kit original de GNV (gás natural veicular), que custa R$ 6.000 a mais com garantia de fábrica.
Além de economizar na bomba, o dono da S10 gasta menos na compra. O preço começa em R$ 58.057 na versão Advantage, que tem ar-condicionado e direção hidráulica. Para acrescentar trio elétrico, alarme, rodas de 16 polegadas, bancos individuais e capota marítima, somente com um pacote, que eleva o valor para R$ 64.154.
A Ranger XLS começa em R$ 63.390 já com ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico e alarme. A top XLT inclui faróis de neblina, rodas de 16 polegadas, bancos individuais e detalhes cromados. Nessa configuração, sai da loja por R$ 67.230.
Na última mudança, a Chevrolet lançou a versão Executive com motor flex, que antes era oferecida somente a diesel. Ela tem airbag duplo, freios ABS, bancos de couro, sendo o do motorista com ajuste elétrico e outros itens de conveniência e visual; custa R$ 71.678. Uma Ford Ranger com estes equipamentos só pode ser comprada na versão Limited com motor a óleo, ao preço de R$ 108.125.
Ranger tem acabamento melhor; S10 é mais confortável
As cabines das picapes têm uma coisa em comum: a falta de espaço. O ponto mais crítico está no banco traseiro, onde os passageiros não conseguem acomodar as pernas e o encosto na vertical incomoda. A Ranger, ao menos, tem um acabamento melhor. Os tecidos são de boa qualidade, assim como os encaixes das peças plásticas. A S10 é ligeiramente mais apertada e apresenta excesso de plásticos duros. A versão Executive compensa com detalhes em imitação de madeira.
O painel das duas denuncia o projeto antigo. Foi onde os fabricantes menos mexeram ao longo dos anos. A Ranger tem um estilo mais clássico, com iluminação verde. A Chevrolet partiu para o fundo azul e para um detalhe que pode agradar quem gosta de esportividade: quando se dá a partida, os ponteiros vão até o fim da escala e voltam.
Ao rodar, a S10 mostra porque deve vencer o comparativo. O torque do motor aparece mais cedo, ideal para levar peso. Perde para a Ranger somente na estrada, que é quando as 16 válvulas e a maior potência falam mais alto. A picape da Chevrolet é também mais confortável, ou melhor, menos desconfortável. O conjunto da suspensão mais rígida faz com que a carroceria pule menos ao passar em buracos e se demonstra mais estável que a rival.
A Ford, por sua vez, tem um motor mais suave e com desempenho melhor em altas rotações. É também a que conta com o câmbio de engates mais precisos, embora as duas sejam duras no manejo. No final, as duas senhoras podem até ser parecidas em alguns pontos, mas a S10 não é a mais popular à toa.