04/08/2014 - Texto: Gabriel Aguiar / Fotos: Divulgação / Fonte: iCarros
Provavelmente, você já ouviu falar sobre recall. E é mais provável que tenha a impressão de que eles vêm acontecendo com mais frequência. Saiba que sua percepção tem fundamento. Para se ter uma ideia, só entre 1 de janeiro e 31 de julho deste ano, 762.032 automóveis de passeio e comerciais leves foram convocados para reparos em 36 diferentes campanhas, segundo dados do PROCON-SP. De acordo com Andrea Arantes, assessora técnica da diretoria de fiscalização da entidade, atualmente, mais de 70% dos recalls são de montadoras e envolvem automóveis. Para comparar, no mesmo período de 2013, foram chamados 416.453 veículos, num total de 28 campanhas.
O que é recall?
"É um chamamento público feito por um fabricante em razão do defeito de um produto para evitar qualquer forma de acidente do consumidor”, explica Andrea. “A partir do momento em que a fabricante é responsabilizada pelo defeito, não pode haver cobrança pelo reparo”. De acordo com Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da JATO Dynamics do Brasil, existem três tipos. “O mais simples é aquele em que a fábrica aciona as revendas da rede para realizar reparos sem conhecimento do proprietário, opção cada vez mais rara. Neste caso, a troca de peças ocorre quando o veículo é deixado na revenda para executar algum conserto. Outra forma é quando o proprietário é convocado diretamente por correspondência. Por fim, há o recall público, quando o assunto envolve componentes de segurança do veículo”.
A notificação dos fabricantes deve ser amplamente divulgada nos meios de comunicação, como emissoras de rádio, televisão, jornais e revistas para alertar o maior número de consumidores possível. As informações devem ser claras e precisas quanto ao objetivo do recall, descrição do defeito e riscos, além das medidas preventivas e corretivas que o consumidor deve tomar.
Por que eles aumentaram?
O professor de Engenharia Mecânica do Centro Universitário da FEI, William Maluf, explica que é difícil creditar o aumento do número de recalls a uma questão específica, mas detalha uma série de fatores que colaboram para o surgimento de problemas nos veículos. “O corpo diretivo das montadoras costuma acreditar que deve cada vez mais reduzir o tempo de produçao dos veículos. Por isso, desenvolvimento, validação e lançamento pode ser menor que aquele tecnicamente necessário”, alerta. Além disso, Maluf explica que a carga tributária no Brasil implica numa série de reduções de custos que podem colocar em xeque a qualidade de certos itens, além de explicar que a adoção de novas tecnologias e componentes eletrônicos pode aumentar substancialmente o número de falhas.
O professor destaca ainda a influência da gestão de desenvolvimento nesse processo. “Algumas montadoras adotaram o desenvolvimento de veículos globais, ou seja, que são produzidos em plataformas comuns, em países estrategicamente escolhidos e com fornecedores globais. Deve-se ter cuidado com a garantia da qualidade dos fornecedores e principalmente da integração dos times de engenharia que, normalmente, são de diferentes países”, ressalta. De 2002 até julho de 2014, foram convocados pelas fabricantes 6.551.636 automóveis por algum tipo de defeito, num total de 418 campanhas de recall.
É motivo para recall?
De acordo com a Lei 8.078/90 do Código de Defesa do Consumidor, “o fornecedor não pode colocar no mercado de consumo, produto ou serviço que apresente alto grau de risco à saúde ou segurança das pessoas. Caso o fornecedor venha a ter conhecimento da existência de defeito após a inserção desses produtos ou serviços no mercado, é sua obrigação comunicar o fato imediatamente às autoridades e aos consumidores”.
Segundo Andrea, o consumidor brasileiro não possui a cultura de notificação dos defeitos aos órgãos de defesa, pois, muitas vezes, os casos são considerados falha de utilização. “Grande parte dos problemas é detectada pelos próprios fabricantes em seus testes e não pelos consumidores”, diz. “O consumidor sempre deve ficar atento quando ocorrer algum defeito, porque muitas vezes considera uma falha de uso o quê, na verdade, é uma falha do produto. Os órgãos de defesa do consumidor sempre devem ser notificados, senão, fica difícil fazer a verificação do defeito”, orienta a especialista.
Um recall é motivado sempre pela averiguação e investigação do PROCON e a empresa notificada deve esclarecer os questionamentos do órgão. Quando o processo tem início por meio das reclamações dos clientes, não há uma regra quanto a um número mínimo necessário para iniciar as investigações, mas a assessora técnica explica que é realizada uma análise relacionando a quantidade de defeitos e o período no qual houve reincidências do mesmo problema. “Não há um número específico para determinar um caso de recall, pois depende da quantidade em relação ao tempo, mas são analisados casos em que surgem a partir de três reclamações em um curto período de tempo sobre o mesmo defeito, produto ou com a mesma queixa. Depende do problema, pois cada caso é um caso”, afirma.
Dados do PROCON revelam que, entre as falhas ocorridas em 2014, a principal incidência foi de problemas no airbag ou no motor, cada um representando 20% do total de convocações. As falhas nos freios vêm sem seguida, com 17,78%. Depois, aparecem na lista os sistemas de combustível (11,11%), elétrico (8,89%), de direção (6,67%) e suspensão (4,44% cada). Por fim, os sistemas de fechamento (portas, vidros e capô), tração, bancos e sinalização correspondem, cada um, a 2,22%.
É para se preocupar?
Para Kalume Neto, da JATO Dynamics, a imagem de um veículo não é tão afetada no Brasil quando ocorre um recall, pois, muitas vezes, os consumidores compreendem a ação como uma medida preventiva. “Em situações muito específicas, o recall causa uma desvalorização mais acentuada do veículo, normalmente quando o problema atinge algo mais estrutural. Foi o caso dos motores BMW, que precisavam ser trocados, pois alguns elementos do nosso combustível destruíam os cilindros. Neste contexto, o prejuízo na revenda do modelo era maior”, afirma.
Maluf, por sua vez, ressalta que tudo depende da forma como a empresa encara esses problemas. “Eles diminuiriam drasticamente se os sistemas previstos nas diretrizes de qualidade fossem cumpridos rigorosamente”, destaca.
Como se proteger?
O PROCON dispõe na internet um banco de dados de recalls, no qual estão especificadas todas as ocorrências desde 2001. É recomendável que, ao comprar um veículo usado, o consumidor procure por possíveis casos que tenham envolvido o modelo pretendido. Além disso, normas estabelecidas pelo Denatran e pelo Contran obrigam que conste no documento se o veiculo foi convocado para recall e se a reparação foi realizada no prazo de um ano. Caso contrário, a informação será anexada à documentação.
Mesmo que o modelo não tenha atendido ao chamado, o consumidor pode solicitar o reparo a qualquer momento, não importando a idade do veículo. O serviço deve ser realizado sem cobrança alguma. O recall só chega ao fim quando 100% da frota defeituosa for reparada ou retirada do mercado.
Conheça os três maiores recalls no Brasil em 2014
1 - Chevrolet - 238.360 veículos afetados/campanha realizada a partir de 20/05/2014
Modelos afetados: Agile, Celta, Cobalt, Cruze Sport6, Cruze, Montana, Onix, Prisma e Spin (fabricados entre 2013 e 2014), e Classic (fabricados em 2013)
Um defeito de fabricação do filtro de combustível poderia causar o vazamento próximo ao tanque. Os riscos incluíam o incêndio do veículo em caso de contato com uma chama externa ou o desligamento repentino por falta de combustível.
2 - Ford – 176.341 veículos afetados/campanha realizada a partir de 17/04/2014
Modelo afetado: Fiesta Rocam (versões hatch e sedã fabricadas entre 2013 e 2014)
A possibilidade de ruptura da válvula do sistema de freio poderia causar a perda de assistência do servo freio (reduz a força necessária ao pisar no pedal para frear o carro). Como consequência, seria necessário um esforço adicional do motorista para acionar o pedal do freio.
3 – Toyota – 94.992 veículos afetados/campanha realizada a partir de 11/04/2014
Modelos afetados: Hilux e SW4 (fabricados entre 2005 e 2011), e RAV4 (fabricados entre 2005 e 2010)
Uma falha no componente de ligação entre o módulo de acionamento e o conjunto da bolsa inflável de ar poderia causar a não abertura do airbag do motorista em caso de colisão.
As três marcas com mais recall no Brasil em 2014:
1 – Chevrolet (8 campanhas)
2 – Ford (5 campanhas)
3 – Jeep e Toyota (3 campanhas cada)
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