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Por que preferimos os projetos brasileiros?

Entenda porque oito dos dez veículos mais vendidos no País são projetos feitos no Brasil e para os brasileiros

03/10/2014 - Gabriel Aguiar / Fotos: Divulgação / Fonte: iCarros

De acordo com os dados da Fenabrave, oito entre os dez veículos mais vendidos no mercado brasileiro em 2014 foram desenvolvidos no País para o consumidor local. Projetos como o Volkswagen Gol e os modelos Palio e Strada, da Fiat, ocupam hoje as três primeiras posições nos emplacamentos do ano. É de se esperar que produtos desenvolvidos com foco num determinado público obtenham sucesso, mas o iCarros consultou especialistas para saber o que o consumidor brasileiro exige de um carro. Além disso, o que os veículos projetados aqui possuem de diferente em relação aos outros lugares do mundo?

Ao longo dos anos muitos automóveis tiveram desenvolvimento nacional. Durante o período em que as importações de veículos foram proibidas, entre 1976 e 1990, surgiram diversos modelos como os famosos Puma, Santa Matilde e Miura. Entretanto, grandes fabricantes também investiram em carros criados no País, tais como Fiat 147, os Volkswagen Brasília e SP2, além da temida Chevrolet Veraneio. Atualmente, Chevrolet Onix, Fiat Uno, Hyundai HB20 e os modelos Fox e CrossFox, da Volkswagen, completam a lista dos dez veículos leves projetados no País mais emplacados em 2014.

Entendendo o “arroz com feijão”

A família HB, da Hyundai, é fruto de um investimento de US$ 700.000.000 (R$ 1.734.530.000) da marca de origem sul-coreana no Brasil. Com modelos de propostas semelhantes disponíveis no exterior, como o i10 e o i20, a fabricante optou por desenvolver um produto completamente novo. Atualmente, o HB20 é o sétimo veículo leve mais vendido do País, com 85.568 emplacamentos, de acordo com a Fenabrave. O gerente de produto da Hyundai Motor Brasil, Rodolfo Stopa, revelou o que foi necessário para criar um carro para o consumidor local. “Além de diversas pesquisas com o público, fizemos a consultoria com especialistas brasileiros de diversas áreas, desde design até a área acadêmica”.

O Volkswagen Gol - o carro mais vendido do País há 27 anos consecutivos - tem a liderança de vendas no acumulado de 2014, com 134.729 unidades comercializadas no período. Segundo Henrique Sampaio, gerente de marketing de produtos da marca, o veículo é um reflexo das preferências do brasileiro. “Na Europa o Golf tem a importância de mercado e posicionamento equivalente ao do Gol no Brasil”, explicou. Diferente do que ocorre em outros países, por aqui, o público exige que o automóvel seja polivalente. “O brasileiro costuma usar o carro na cidade, mas viaja para o campo ou para a praia no final de semana, além de rodar por vias não pavimentadas”, disse Sampaio. O executivo da Hyundai também comentou essa característica. “O brasileiro exige, basicamente, um carro bonito, robusto, durável e que ainda tenha espaço suficiente para uma família”, afirmou Stopa.

A verdade é que as preferências nacionais vão além dos gostos, tornando-se também reflexos da estrutura oferecida no País. Com um território de 8.460.415 km² e uma malha rodoviária de 1.691.522 km – sendo apenas 203.598 km pavimentados –, segundo dados do DNIT, os carros devem se adequar a diferentes condições de rodagem. “O ângulo de entrada e saída é algo que os projetistas levam muito em consideração. E como o Brasil possui muitas ladeiras, o carro também precisa ter as relações de marchas encurtadas. Normalmente isso é feito com as três primeiras”, disse Sampaio.

Ao gosto do freguês

O gerente da Volkswagen foi enfático ao dizer que, no País, há uma grande diferença no perfil de consumo. “O europeu é um comprador muito mais racional. Se ele não precisa de um carro grande, ele não vai comprar um carro desse porte. Já o brasileiro busca um carro que supra todas as suas necessidades”, afirmou.  Além disso, existe o fator “vizinho”. “O consumidor aqui é muito preocupado com o que o vizinho vai achar, porque o veículo também representa ascensão social e ‘status’”, completou o executivo.

Algumas exigências mercadológicas são bastante conhecidas, como a predominância de cores escuras no interior dos carros e de cores sóbrias para a carroceria. Entretanto, outras questões são levadas em consideração na realização de projetos que atendam ao gosto local. “O público brasileiro prioriza o motor flex e, nos segmentos de entrada, também o motor 1.0. Além disso, atualmente os brasileiros valorizam detalhes como porta-objetos e volume do porta-malas”, disse Rodolfo Stopa, da Hyundai.

Henrique Sampaio destacou ainda outros pontos. “O consumidor exige marcador de temperatura analógico com mostrador, ao invés da luz-espia comum em outros mercados. Além disso, é importante que o carro tenha espelho no para-sol e ajustes de altura para bancos e, principalmente, dos cintos de segurança dianteiros”. Além de detalhes de acabamento, também há uma predileção por revestimento dos bancos em tecido, em detrimento de materiais sintéticos, como vinil, comuns em outros países.

Do Brasil para o mundo

Com a proliferação de projetos globais, se torna cada vez mais indispensável a participação de engenheiros de diferentes países para o desenvolvimento de um veículo. Sampaio afirma que, além do processo de adaptação dos projetos diretamente na matriz, os engenheiros brasileiros possuem um grande conhecimento da aplicação de sistemas bicombustíveis em motores, tecnologia em expansão, principalmente nos EUA.

Stopa também falou sobre a importância do uso da experiência obtida no Brasil para o desenvolvimento de projetos para outros países. “Os engenheiros brasileiros acumulam um vasto conhecimento sobre ajustes de suspensão e de motores, tanto para adequá-los ao etanol, quanto com relação à tecnologia flex”, explicou.

Além disso, há uma grande contribuição dos brasileiros na redução de custos dos projetos. Certas peças, que são modificadas para o barateamento da produção, acabam sendo adotadas posteriormente em outros mercados, como ocorreu com o VW up! europeu. “No Brasil foram feitas mudanças em relação ao modelo vendido na Alemanha. Além de novas peças, que tiveram o custo de produção reduzido sem alterar suas características, foram adotadas proteções na parte inferior do veículo. Ambas as modificações foram incluídas na versão europeia”, revelou o gerente da marca.

 

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