Na coluna da semana passada, falei sobre como é a maneira correta de se projetar um carro conforme os preceitos de design. Hoje, veremos que Design e Ergonomia caminham juntos na elaboração tanto do projeto de um carro como qualquer objeto que se relacione com o ser humano.
A Ergonomia é uma ciência responsável da interação do homem com os sistemas. Seu significado vem das palavras gregas Ergo (trabalho) e Nomos (normas). Nos EUA, também é conhecida como Human Factors (Fatores Humanos) ou Human Factors & Ergonomics (Fatores Humanos e Ergonomia). Aliás, é pertinente comentar que o termo exaustivamente utilizado por publicações automobilísticas -'Ergonometria' - é errôneo. Ergonomia não é um sistema de medidas, mas um conjunto de ciências.
O termo ergonomia surgiu nos anos 1800, mas os primeiros estudos de como eliminar esforços desnecessários no trabalho surgiram no século XIX, conduzidos por Frederick Taylor. A ergonomia só teve sua importância, porém, na época da Segunda Guerra, quando o tenente do exército americano Alfonse Chapanis demonstrou que um piloto de caça poderia errar menos se comandos e postura fossem estudados de forma a se adaptarem ao homem. Finalmente, em 1949, surgiu na Inglaterra a primeira Associação Nacional de Ergonomia, formada por fisiologistas, terapeutas e engenheiros.
A ergonomia é abrangente a tudo que cerca o ser humano, como iluminação, arquitetura e posturas. A disciplina da ergonomia mais conhecida por todos é a antropometria, a ciência responsável pelas medidas do corpo humano e a que mais nos interessa.
A ergonomia faz parte do currículo de formação de um Designer de Produtos. Ela anda junto com qualquer projeto que fazemos porque o design tem como princípio projetar objetos ou sistemas de forma que sirvam ao ser humano com conforto e intuitividade.
Mas como utilizar a ergonomia no estudo de um carro? Como citei na coluna anterior, Giugiaro 'modelou' o Fiat Mille ao redor dos ocupantes para iniciar o seu projeto. Quando se exibem aqueles desenhos de publicidade, só vemos um bonequinho sentado num banco, levando a crer que tal etapa de projeto é fácil, mas não é não!
Um dos conceitos mais errados e difundidos é projetar para um suposto 'homem médio'. Em projeto não existe homem médio. Aliás existe sim, mas uma média feita de maneira diferente. Imaginemos uma escala percentual que vá de 0% até 100%. Dentro desta escala, temos um menor indivíduo, que é representado por uma mulher que mede 1,49 m de altura. Ela representa 2,5% nesta escala percentual. Depois, imaginemos o maior indivíduo, um homem com 1,88 m de altura. Ele representa 97,5% na escala percentual.
Assim, então, a faixa que vai do percentual 2,5% ao 97,5% é a 'média'. Quem ficar situado entre as faixas de 0% e 2,5% ou entre 97,5% e 100% será excluído por representar uma gama de indivíduos muito pequena para uma produção em massa. Aí, nosso leitor estará se perguntando: 'e o meu amigo que é jogador de basquete e mede 2,05 de altura?' Bem, embora todos nós conheçamos alguém muito alto, este biotipo ainda não pode ser considerado comum em uma população. Claro, um fabricante bem intencionado pode (e é recomendável) projetar um carro que caiba o Magic Jonhson!
Então, quando se projeta a posição do ser humano em um carro, temos de o fazer de maneira que os indivíduos mínimos e máximos se acomodem com conforto, possam alcançar pedais, volante e terem uma visão adequada.
Um outro ponto importante é que, apesar do ponto inicial para o projeto ergonômico seja o tal ponto 'H' (articulação do tronco com as pernas) estando o condutor sentado no banco, os olhos devem permanecer na mesma posição independente da altura do indivíduo, seja no percentual 2,5% ou 97,5%. Para isto, devem existir os ajustes de profundidade e altura no banco. Isso é necessário para que a visibilidade seja igual para todos os tipos de condutores.
Evidente que nenhum projeto é perfeito, mas, hoje em dia, os fabricantes já entenderam a questão da posição do condutor e disponibilizam ajustes impensáveis nos passado, como altura do banco, regulagem de profundidade e altura do volante.
Mario escreve às quintas